Nossa história

As origens do Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (Feparq) remontam à realização da I Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (I Reparq), ocorrida em Brasília, entre os dias 6 e 9 de junho de 2010. De acordo com Silva (2024), a reunião contou com a participação de docentes de cursos de Arquivologia do Brasil, incluindo todos os coordenadores de cursos. Ao final daquele encontro, os participantes deliberaram diversas linhas de ação, dentre as quais estavam a criação de um grupo de trabalho responsável por analisar as condições para o estabelecimento de uma associação de ensino e pesquisa em Arquivologia.

Em 2011, durante a II Reparq (realizada no Rio de Janeiro), o referido grupo foi transformado no Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (Feparq). O fórum foi estabelecido com o objetivo de assegurar a criação e instalação de uma entidade nacional de ensino e pesquisa em Arquivologia, além de desenvolver ações que favoreçam o fortalecimento da formação e da investigação científica na área.

Nos anos seguintes, o Feparq organizou outras seis edições da Reparq. Os eventos ocorreram, respectivamente: em Salvador (2013), João Pessoa (2015), Belo Horizonte (2017), Belém (2019), Rio de Janeiro (2022) e Vitória (2024). A memória e os resultados desses encontros foram organizados e reunidos em oito livros publicados e divulgados pelas universidades que promoveram os eventos, sendo três em formato impresso (Marques; Roncaglio; Rodrigues, 2011), (Mariz; Jardim; Silva, 2012), (Matos; Cunha; Freixo, 2015), e cinco em formato eletrônico (Neves; Rocha; Silva, 2016), Venâncio; Silva; Nascimento, 2018), (Barros; Santos Jr; Cândido, 2019), (Lousada; Pazin; Elian, 2023) e (Malverdes; da Silva; Morais, 2025). Tais obras condensam objetivos, propostas e ações realizadas por esse fórum de docentes e pesquisadores em prol do ensino e da pesquisa em Arquivologia no Brasil nas duas primeiras décadas do século XXI.


Os cursos de graduação em Arquivologia começaram a ser criados a partir da década de 1970 e ganharam maior impulso nas décadas de 1990 e 2000. Os profissionais formados por estes cursos, e também os egressos de outras áreas afins da Arquivologia, contribuíram para a crescente produção de dissertações e teses com temáticas arquivísticas produzidas em diversos programas de pós-graduação, a maioria nas áreas de História e Ciência da Informação, posto que ainda não havia nenhum curso de mestrado ou doutorado stricto sensu na área de Arquivologia.


A expansão dos cursos de graduação em Arquivologia e da produção científica com temáticas arquivísticas em nível de pós-graduação foi um dos principais estímulos para reunir o coletivo de docentes e pesquisadores. Mesmo com acesso à internet e várias tecnologias de informação e comunicação à disposição, faltava o impulso humano fundamental para agregar, reunir e provocar uma reflexão coletiva sobre o estado da arte na área acadêmica. Até mesmo, antes disso, criar a possibilidade para que docentes e pesquisadores das diferentes regiões do país pudessem se conhecer pessoalmente e se (re)conhecer como uma comunidade de ensino e pesquisa em Arquivologia. Provocação feita, docentes do curso de graduação de Arquivologia da Universidade de Brasília (UnB) tomaram para si a tarefa de convidar coordenadores e representantes dos cursos de todo o Brasil a se reunirem em Brasília para pensar o ensino e a pesquisa em Arquivologia. Tal iniciativa não poderia ter mais êxito; os então coordenadores e/ou representantes dos 15 cursos aceitaram e compareceram à I Reparq, para a qual contribuíram entusiasticamente para congregar informações e ações para o fortalecimento da área.


Aquele momento foi fundamental para estreitar laços entre os profissionais e definir diretrizes para um trabalho coletivo. Como bem lembrado por Rodrigues (2011), na apresentação do livro que reuniu a memória do evento, a proposta não era inteiramente nova, pois na década de 1990 já havia ocorrido duas reuniões denominadas, à época, Reunião Brasileira de Ensino de Arquivologia. Todavia, em 2010, o evento ocorria “em novas bases e com uma pauta ampliada”, e “o acréscimo do termo pesquisa ao nome não só diferenciaria o evento de outros passados mas também nos autorizaria a considerá-lo o primeiro sem, contudo, ignorar os esforços precedentes.” (Marques; Roncaglio; Rodrigues, 2011, p.12).


Dentre as principais concordâncias e proposições resultantes do primeiro encontro foi, primeiro, que as reuniões ocorreriam anualmente e seriam promovidas pelas universidades que abrigam cursos de graduação em Arquivologia. Segundo, seria criado um grupo de discussão virtual para manter e estimular a comunicação entre os membros. E, terceiro, foram designados dois grupos de trabalho para aventar a possibilidade de criação de uma associação científica de ensino e pesquisa em Arquivologia e para estudar a criação de um curso de mestrado em Arquivologia.


Assim, no ano seguinte, em 2011, foi a vez dos cursos de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) sediarem a II Reparq. Nas deliberações, recomendações e moções deste segundo encontro foi instalado o Fórum Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Arquivologia “com o objetivo de assegurar a criação e instalação da entidade nacional de ensino e pesquisa em Arquivologia e desenvolver ações que favoreçam o desenvolvimento do ensino e pesquisa na área. (…) Cumprido o objetivo de criação da Associação Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, o Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia será extinto” (Mariz; Jardim; Silva, 2012, p.512). A partir daí, também foi decidido que a Reparq seria um evento bienal e, entrementes, ocorreria o Fórum Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, junto aos eventos profissionais da área (Congresso Brasileiro de Arquivos e Congresso Nacional de Arquivos), a fim de que os grupos de trabalho criados a cada evento pudessem preparar e consolidar documentos e encaminhamentos para a Reparq seguinte.


Destaca-se aqui alguns exemplos significativos dos avanços obtidos por esse coletivo, e também de algumas “demoras” que merecem ser esmiuçadas em pesquisas futuras, a partir de análises que permitam a compreensão das suas ações no contexto econômico, social, tecnológico e político do Brasil e do mundo nessas duas primeiras décadas do século XXI.
Dentre os avanços, a própria agregação de docentes, pesquisadores e coordenadores de cursos de todo o país em reuniões e fóruns científicos que já duram uma década é o principal indicador da consolidação (e da comunicação) do ensino e da pesquisa em Arquivologia no Brasil. A reflexão coletiva sobre questões teóricas, epistemológicas, metodológicas, pedagógicas, políticas e institucionais fortalece, esclarece, media e possibilita diretrizes importantes para o desenvolvimento da área.


A criação do primeiro curso de mestrado em Arquivologia no Brasil, e também da América Latina, na modalidade de mestrado profissional em Gestão de Documentos e Arquivos, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), em 2012, foi também resultado da compreensão que para a consolidação do campo arquivístico em programas de pós-graduação é necessário evidenciar a autonomia da Arquivologia como área do conhecimento, criando cursos de mestrado e doutorado stricto sensu. Ainda que a interdisciplinaridade e o diálogo permanente com diversas áreas do conhecimento sejam características intrínsecas à área, em todas as recomendações das Reparqs e, mais explicitamente, na V Reparq, insiste-se e persiste-se na reformulação da classificação da Arquivologia nas tabelas de conhecimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que atualmente a subordinam à Ciência da Informação (Venâncio; Silva; Nascimento, 2018, p.13).


Conjuntamente, como também recomendam todas as edições da Reparq, mostra-se crucial estimular o ingresso de arquivistas na docência. Tais avanços vem ocorrendo, porém, em marcha lenta. Não foi criado mais nenhum curso de mestrado em Arquivologia e ainda são poucos os arquivistas que enveredam pela carreira acadêmica.


Há, contudo, que comemorar a produção científica com temáticas arquivísticas. Ainda que em parte seja realizada em programas de pós-graduação de outras áreas, transparece o esforço e o empenho de docentes e discentes em realizar pesquisas de qualidade voltadas para estudos teóricos, epistemológicos e empíricos que têm inclusive sido reconhecidos e premiados por agências de fomento à pesquisa, associações científicas e instituições arquivísticas e universitárias. Em levantamento no catálogo de teses e dissertações da CAPES, foram identificadas, entre 1972 e 2018, 661 pesquisas de mestrado e doutorado, sendo 39 do Programa de Mestrado Profissional criado na UNIRIO em 2012.


Em 2013, durante a III Reparq, pela primeira vez foi realizada a eleição por este coletivo para um representante (titular e suplente) das entidades mantenedoras de cursos de Arquivologia no Conselho Nacional de Arquivos (Conarq). Recentemente, em 2020, instituiu-se nova composição dos conselheiros do Conarq e uma nova designação da representação, abrangendo representantes de “instituições de ensino e pesquisa, organizações ou instituições com atuação na área de tecnologia da informação e comunicação, arquivologia, história ou ciência da informação”. Nesta nova composição, o Fórum obteve um aumento de um para dois representantes da área de Arquivologia (titular e suplente) no Conarq.


A arquivologia brasileira, como expressa a literatura científica da área no país, passou a realizar uma autoavaliação, voltando-se não apenas para o seu objeto – os arquivos e os documentos de arquivo – mas tornando-se objeto de si mesma, ao investigar a sua própria trajetória como ciência ou disciplina científica. Na construção deste campo científico, multivocal e multilinear, pautado principalmente por atores e conhecimentos produzidos nas universidades, é que se delineia a necessidade de uma associação científica. Sobre o assunto já foram criados dois grupos de trabalho, escritos dois capítulos de livros, porém, segue sem previsão a criação de uma entidade científica representativa da área que substituiria o Feparq, conforme indicado na II Reparq. Este tema também merece ser pauta para uma análise mais específica e aprofundada sobre os desafios dos movimentos associativos na atualidade.


Os arquivos, os arquivistas, e os demais profissionais da informação que trabalham na área, certamente continuarão tendo muitos desafios pela frente. O ensino e a pesquisa em Arquivologia também. Diante de tantas adversidades, porém, espera-se que o coletivo de docentes e pesquisadores tenham vida longa e produtiva. Ainda não se sabe como acontecerá a VII Reparq, se presencial ou virtual, mas já se pode inferir que novos temas, e alguns outros talvez um pouco esquecidos, brotarão do isolamento físico e da vontade do saber arquivístico coletivo.